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Artigo por: Pedro Ré, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa
Os eclipses solares e lunares têm fascinado o homem desde os primórdios da História. A passagem da Lua em frente do Sol provoca os eclipses solares, enquanto um eclipse lunar ocorre quando a Lua passa pela sombra da Terra. Os eclipses do Sol só podem registar-se por ocasião da Lua nova. Em contrapartida, os eclipses da Lua registam-se por ocasião da Lua cheia.
Os eclipses solares podem ser totais, quando a Lua encobre por completo o sol, parciais quando apenas parte do Sol é encoberto pela Lua e anulares quando o diâmetro aparente da Lua é menor que o Sole a Lua não encobre por completo o astro rei.
Os eclipses lunares podem ser totais, quando o nosso satélite penetra completamente no cone de sombra projectado pela Terra, parciais quando apenas parte da Lua passa pela sombra da Terra e penumbrais quando a Lua não passa pelo cone de sombra e é apenas obscurecida pela penumbra da Terra. Ao contrário dos eclipses solares, que podem ser totais num determinado local e parciais noutro, os eclipses lunares podem ser observados em todo o hemisfério não iluminado do nosso planeta.
A fase de totalidade de um eclipse solar não pode ultrapassar 7,5 minutos. Em contrapartida, a fase de totalidade dos eclipses lunares pode durar mais de uma hora e meia.
Os eclipses solares são mais frequentes que os eclipses lunares. Os primeiros são visíveis somente numa área reduzida da Terra, enquanto que os segundos podem ser observados em grande parte do nosso planeta. A faixa em que um eclipse do Sol pode ser observado como total não pode ultrapassar os 269 km. Isto significa que em média um eclipse total do Sol pode ser visto de um mesmo local cada 375 anos.
Os diâmetros aparentes do Sol e da Lua são idênticos quando observados a partir da Terra. A Lua tem um diâmetro cerca de 400 vezes inferior ao do Sol, no entanto como se encontra 400 vezes mais perto da Terra, surge-nos com uma dimensão aparente idêntica à da nossa estrela. A distância da Terra ao Sol não é sempre a mesma. Do mesmo modo a distância da Terra à Lua varia de um modo significativo. Os diâmetros aparentes dos dois astros alternam-se ciclicamente, sendo este fenómeno mais evidente no caso da Lua. Por este motivo, os eclipses solares nunca são iguais e a fase de totalidade pode ter uma duração distinta. Quando o disco lunar não cobre por completo o disco solar, ocorre um eclipse anular. Durante um eclipse lunar, o nosso satélite é obscurecido quando passa através da sombra projectada pela Terra. Durante um eclipse total, a Lua adquire uma coloração avermelhada ou alaranjada. Esta coloração é conferida pelos raios solares refractados pelas camadas inferiores da atmosfera terrestre. Na sua fase de totalidade os eclipses podem ser mais escuros ou mais brilhantes, consoante a quantidade de matéria presente na atmosfera.
Os eclipses totais do Sol são sem dúvida um dos fenómenos naturais mais interessantes de observar e de fotografar. A totalidade pode durar apenas alguns minutos que devem ser devidamente apreciados. Algum planeamento prévio permitir-nos-á obter imagens do fenómeno e, ao mesmo tempo, observar o eclipse visualmente em boas condições e em segurança.
À medida que a fase de totalidade se aproxima, o céu adquire uma tonalidade própria muito difícil de descrever. O obscurecimento é evidente no horizonte oeste, sendo por vezes possível observar com nitidez a aproximação do cone de sombra projectado no nosso planeta.
Com o desaparecimento progressivo do crescente solar é por vezes possível observar durante alguns segundos alguns pontos intensos de luz espalhados irregularmente. São as “contas de Baily”, cujo nome deriva do astrónomo inglês que as descreveu pela primeira vez. As “contas de Baily” não são mais do que os últimos raios de luz solar que brilham através das irregularidades do bordo do disco lunar. Estas podem ser observadas cerca de 10 segundos antes da fase de totalidade que tem início após o segundo contacto. Quando são visíveis forma-se um efeito muito interessante que por vezes também é designado de “anel de diamante”. O efeito de “anel de diamante” corresponde à observação de uma única “conta de Baily”. Estes breves momentos anunciam o início da fase de totalidade.
Por esta altura, o céu fica momentaneamente escuro. Dependendo da altura no Sol na fase de totalidade, o horizonte pode apresentar um aspecto distinto, adquirindo uma coloração alaranjada e alguns efeitos de sombra interessantes de observar e fotografar. Apesar de o céu escurecer dramaticamente, nunca fica idêntico ao céu nocturno. Além da observação destes fenómenos, visíveis unicamente durante um eclipse total do Sol, algumas estrelas e planetas tornam-se aparentes e por vezes também cometas.
A coroa solar torna-se visível em toda a sua glória. Esta é somente aparente durante a fase de totalidade uma vez que a sua luminosidade intrínseca é muito inferior à da superfície solar. As dimensões da coroa solar são variáveis e dependentes do nível de actividade da nossa estrela. Podem atingir vários diâmetros do disco solar. A sua estrutura interna é muito rica. Com o auxílio de alguma ajuda óptica (binóculos ou telescópios) tornam-se evidentes alguns jactos e plumas.
Ainda durante a fase de totalidade é possível observar dois outros fenómenos dignos de nota. A luz da atmosfera solar ou cromosfera é visível como um disco de cor avermelhada durante os instantes correspondentes ao início e ao final da totalidade. Por esta altura também se tornam visíveis as protuberâncias solares, grandes quantidades de matéria que é ejectada da cromosfera que percorrem vários milhões de quilómetros desde a libertação até à sua queda seguindo as linhas de força do campo magnético solar. As protuberâncias apresentam uma coloração nítida, geralmente vermelho vivo.
Como fenómeno associado a um eclipse total do Sol assiste-se geralmente a uma quebra acentuada da temperatura do ar que provoca por vezes um aumento da velocidade do vento. Este vento é por vezes designado “vento de eclipse”. O comportamento animal é também afectado durante a fase de totalidade. Muitos organismos de hábitos nocturnos tornam-se momentaneamente activos (e vice-versa para os de hábitos diurnos).
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Miguel Claro disse:
Parabéns caro Pedro Ré,
O texto explicativo e exemplificativo sobre a ocorrência de Eclipses está muito bem elaborado, como aliás é apanágio. A minha crítica como astrofotógrafo recai exactamente sobre as imagens, que na minha análise estão irrepreensivelmente bem adquiridas e processadas, ambos sabemos do trabalho que está por de trás de uma fotografia de um Eclipse. As imagens disponíveis nesta página e que não entraram na curta série estão igualmente fenomenais, não querendo ser repetitivo, mas sendo: como aliás é apanágio do Pedro.
Com uma única palavra e utilizando a gíria astro/fotográfica: Brutal !
Muitos parabéns pela participação e respectiva publicação.
Um abraço
Miguel Claro
27/Out/2009, 10:52José Ribeiro disse:
Será que ouvi bem? A Maria Gambina no final do texto disse “Por isso só teremos eclipses durante os próximos BILIÕES de anos???
27/Out/2009, 11:25Um BILIÃO em portugês corresponde a um milhão de milhões! O Sol só vai existir mais 5 mil milhões de anos, pelo que a frase é totalmente descabida, pelo menos no que respeite ao sistema solar! Eclipses existirão sempre… a humanidade é que não estará cá para ver.
Lina Canas disse:
A frase dita, no contexto do vídeo, é meramente uma referência “descontraída” para nos descansar pois, mesmo a Lua estando a afastar-se da Terra, ainda poderemos desfrutar por muitos e bons anos desse fantástico espectáculo que são os eclipses. Mas efectivamente induz em erro em termos científicos e agradecemos imenso o reparo.
De facto, biliões de anos está incorrecto, sendo mais correcto referir centenas de milhões de anos e não, como disse, milhões de milhões.
A Lua está a afastar-se da Terra e o último eclipse solar total de sempre será daqui a aproximadamente 713 milhões de anos assumindo uma velocidade de afastamento constante de aproximadamente 3cm/ano [1]. Há uma actividade muito interessante sobre o assunto em:
[1] http://spacemath.gsfc.nasa.gov/weekly/4Page28.pdf
Podemos ainda argumentar que o Sol, daqui a aproximadamente 5 mil milhões de anos irá entrar na fase gigante vermelha alterando o seu tamanho aparente.
Só um pequeno reparo ao seu comentário, apesar de se compreender perfeitamente o ponto a que quer chegar. O Sol não vai existir só mais 5 mil milhões de anos. Poderá ler o interessante artigo escrito pela Doutora Ana Mourão em “O Fim do Sol” em:
06.html
27/Out/2009, 10:26Mike Silva disse:
Será que o facto da lua se estar a afastar lentamente da terra não é devido ao fenomeno do big-bang?
27/Out/2009, 23:52Lina Canas disse:
A razão de a Lua se estar a afastar da Terra relaciona-se com o facto de a Lua gerar marés na Terra.
A face da Terra voltada para a Lua sofre uma maior atracção gravítica que o centro da Terra, do mesmo modo, a parte da Terra oposta à Lua sofre menos gravidade que o centro da Terra. Este efeito alonga um pouco a Terra, apesar de o efeito mais visível ser o das marés nos oceanos, o corpo sólido da Terra também é afectado.
As zonas mais proeminentes da forma oblonga da Terra exercem uma atracção gravitacional na Lua e uma vez que a Terra possui uma rotação mais rápida (24 horas) que a órbita da Lua (27,3 dias) estas zonas tendem a “puxar ” Lua, aumentando a sua velocidade orbital. Se a velocidade orbital da Lua aumenta, o tamanho da sua órbita irá aumentar, levando a que a Lua lentamente se afaste da Terra. Nesta dinâmica entre a Terra e a Lua, a Lua também atrai graviticamente estas zonas proeminentes, levando a que a Terra desacelere na sua rotação havendo uma transferência de momento rotacional da Terra para o momento orbital da Lua.
(Referências:
http://curious.astro.cornell.edu/question.php?number=124
http://www.astronomy.com/asy/default.aspx?c=a&id=2195
http://en.wikipedia.org/wiki/Orbit_of_the_Moon#Tidal_evolution_of_the_lunar_orbit
http://en.wikipedia.org/wiki/Tidal_acceleration
)
(A dinâmica do Sistema Terra-Lua é uma questão muito interessante, poderá encontrar mais informações nos sites mencionados.
Apenas uma nota: a Wikipédia é uma óptima fonte para uma busca rápida, no entanto é necessário ter cuidado e verificar sempre as fontes originais/oficiais, garantido que estas são de facto fidedignas.)
O afastamento que referiu na sua questão, previsto pela teoria do Big Bang e observado em galáxias por Edwin Hubble, verifica-se a grandes escalas (por exemplo em galáxias muito afastadas), no entanto a força gravítica continua a dominar a escalas de distâncias mais curtas. A Terra não se está a expandir devido a isso, nem o Sistema Solar, nem a Via Láctea… até mesmo a maior galáxia mais próxima da Terra, a galáxia de Andrómeda, está a aproximar-se da Via Láctea. São principalmente grupos e enxames de galáxias que se estão a afastar.
Por fim gostaria apenas de agradecer a sua questão, que abre espaço a uma óptima discussão sobre a dinâmica de diferentes sistemas, quer a larga escala quer a pequena escala. Obrigada e esperamos ter ajudado.
27/Out/2009, 16:22